Desfile Farroupilha marca o Dia do Gaúcho em Giruá com chegada da Chama Crioula
Por Daniel Pereira, set 20 2025 0 Comentários

Desfile Farroupilha marca o Dia do Gaúcho em Giruá

Giruá amanheceu em ritmo de tradição nesta sexta-feira, 20 de setembro. Às 9h, a Rua Bento Gonçalves virou passarela para cavaleiros, prendas e peões, em um ato que mistura memória, orgulho e identidade. O Desfile Farroupilha reuniu entidades tradicionalistas do município e abriu, de forma oficial, a programação local da Semana Farroupilha.

O cortejo destacou símbolos que contam a história do Rio Grande do Sul: lenços, pilchas, bandeiras e o som das gaitas. Representantes de grupos tradicionalistas desfilaram em ordem, mostrando invernadas artísticas, bandinhas e delegações a cavalo. Foi um momento de celebração coletiva, com a comunidade acompanhando das calçadas, registrando fotos, aplaudindo e prestigiando crianças, jovens e veteranos que mantêm viva a cultura gaúcha.

A chegada da Chama Crioula deu o tom solene. O fogo simbólico — que é repartido anualmente entre municípios gaúchos — reforça a ideia de continuidade, de geração para geração. Em Giruá, a chama marcou a abertura oficial da Semana Farroupilha e serviu de elo entre o passado farroupilha e os compromissos atuais com a preservação das tradições.

O trajeto pela Rua Bento Gonçalves não é aleatório. Além de ser um dos endereços mais conhecidos da cidade, carrega no nome a lembrança de um dos líderes farroupilhas. Esse encontro entre a geografia do município e a história do estado ajuda a explicar por que o desfile, mesmo sendo um ato cívico e cultural, também funciona como uma aula a céu aberto para quem acompanha a passagem das delegações.

Em torno do desfile, o clima foi de encontro entre famílias, colegas de escola e vizinhos. Muitos aproveitaram para circular pelo centro, tomar um chimarrão e rever amigos. Equipes de organização e apoio acompanharam o percurso, com atenção ao trânsito e à passagem dos cavalarianos. O cuidado com os animais e a segurança de quem assiste vem ganhando espaço ano após ano, com orientação sobre hidratação, distâncias entre grupos e espaços adequados para o público.

O desfile também movimenta a cena local. O comércio costuma sentir o impacto positivo do fluxo de pessoas, e escolas aproveitam a data como parte de atividades pedagógicas. Alunos pesquisam a história regional, montam painéis e participam de apresentações, o que ajuda a transformar a Semana Farroupilha em um projeto coletivo que envolve cultura, educação e comunidade.

Por que 20 de setembro importa e o que vem pela frente

Por que 20 de setembro importa e o que vem pela frente

O 20 de setembro lembra o início da Revolução Farroupilha, em 1835, quando lideranças regionais se levantaram contra o Império do Brasil. O conflito durou cerca de dez anos, deu origem à República Rio-Grandense e teve figuras como Bento Gonçalves da Silva e Giuseppe Garibaldi. O acordo de paz, firmado em 1845 — conhecido como Tratado de Poncho Verde — encerrou os combates. O resultado prático foi um conjunto de concessões e o fortalecimento de uma identidade regional que se manifesta até hoje.

Essa identidade não é apenas política ou militar. Ela aparece no churrasco, no chimarrão, no vocabulário, na música de gaita e violão, nos rodeios, nos bailes e nas danças. Quando um município como Giruá para para ver o desfile, há um recado simples: tradição não é peça de museu, é rotina de gente que vive, trabalha e se reconhece nesses símbolos.

A Chama Crioula, que hoje percorre o estado, tem origem em um gesto de jovens tradicionalistas que, em 1947, acenderam um fogo em Porto Alegre para manter, durante a Semana Farroupilha, um ponto de união e memória. Desde então, a centelha é distribuída a cidades, piquetes e CTGs, servindo de referência para atividades culturais, cavalgadas e encontros. Em Giruá, sua chegada marca o compasso das próximas atividades.

Ao longo da Semana Farroupilha, a tendência é ver uma programação que mistura apresentações artísticas, fandangos, oficinas para crianças, declamação de poesia, rodas de música e celebrações religiosas, como a Missa Crioula. Cavalgadas e mateadas costumam completar o calendário, com espaços para rodas de conversa e contação de causos. Para quem participa, é um período de convivência e aprendizado — e, para quem vê de fora, uma oportunidade de entender a cultura gaúcha em movimento.

Em termos de educação, professores aproveitam o tema para colocar os alunos em contato com fontes históricas, mapas, documentos e canções. Atividades de interpretação, produção de textos e pesquisas sobre o período farroupilha ajudam a contextualizar símbolos que aparecem no cotidiano, como o hino rio-grandense, o uso do lenço e o respeito à pilcha, reconhecida por lei como traje oficial.

Também pesa o lado econômico e turístico. Cidades que se organizam para a Semana Farroupilha costumam atrair visitantes da região, o que favorece restaurantes, mercados, transporte e serviços. Mesmo em eventos de escala local, como o de Giruá, a circulação maior de pessoas dinamiza o fim de semana e valoriza quem trabalha com gastronomia típica, artesanato, erva-mate e equipamentos para lida de campo.

Outro ponto que vem ganhando espaço é a sustentabilidade. O cuidado com o descarte correto de resíduos, a proteção das áreas de desfile e o bem-estar animal entra na pauta de organizadores e participantes. Iniciativas simples — como disponibilizar água para os cavalos, orientar horários de alimentação e definir áreas específicas para estacionamento de caminhões de apoio — fazem diferença na experiência de quem desfila e de quem assiste.

Para muita gente, o Dia do Gaúcho é uma data de memória familiar. Avós e netos se encontram no mesmo espaço, contam histórias e comparam fotografias de desfiles de décadas passadas com os de hoje. Essa linha do tempo, visível no olhar de quem acompanha da calçada, ajuda a entender por que a tradição resiste: ela não depende só de grandes eventos, mas de rituais simples repetidos com cuidado, ano após ano.

Giruá integra esse mapa afetivo do Rio Grande do Sul. Ao levar o desfile para a rua principal, abrir a Semana Farroupilha com a Chama Crioula e colocar a comunidade no centro da festa, o município cumpre um papel que vai além da comemoração: mantém viva a ponte entre a história da antiga Província de São Pedro e a vida presente. E, quando a música para e as bandeiras se recolhem, fica a certeza de que a cultura segue adiante, pronta para a próxima roda de conversa, o próximo baile ou a próxima cavalgada.

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