Globo busca resgatar essência de 'Vale Tudo' após baixa audiência
Se alguém achava que o remake de Vale Tudo, previsto para 2025, viria apenas como uma releitura nostálgica, já pode esquecer. Globo se viu obrigada a agir, e rápido, diante dos índices mornos da novela na prévia das gravações. O clima nos bastidores ficou tenso. Como resposta, a ordem foi simples: 'Voltem às raízes do original de 88.' O comando veio direto para Manuela Dias, autora do novo texto, com recados claros sobre quais caminhos seguir.
Na prática, isso significa correções profundas nos personagens centrais — e até um corte pesado nas cenas já prontas. Cerca de cinco episódios inteiros vão para o lixo, tudo porque o novo rumo divergia do clássico. O maior exemplo está em Marco Aurélio, vivido agora por Alexandre Nero. Ele tinha virado um vilão cheio de nuances, com doses de humanidade, mas a direção da Globo vetou: 'Queremos a fera original de volta.' O mesmo vale para Odete Roitman, personagem eternizada na cultura pop brasileira. Na versão 2025, Debora Bloch interpretava uma Odete bem diferente, até ninfomaníaca, mas a direção exigiu o retorno de toda a crueldade e frieza que marcaram a vilã no final dos anos 80.
Mudanças nos núcleos, tecnologia e relações familiares
Os ajustes não pararam nos perfis dos personagens. Os roteiristas também olharam para o cenário da trama e decidiram modernizar tudo. A tradicional revista Tomorrow, peça-chave na história de Fátima e companhia, deixa de ser impressa. Agora, ela vira uma agência de conteúdo digital — uma mexida necessária para que a novela dialogue com a era dos influencers e redes sociais, espelhando o atual ecossistema midiático brasileiro.
Outra mudança que pegou muita gente de surpresa envolve as relações familiares. Consuelo e Jarbas, originalmente irmãos na versão de 1988, passam a ser um casal nesta nova montagem. A intenção é refletir a cara das famílias atuais e explorar diferentes formas de afeto e dinâmica conjugal, espremendo ainda mais as possibilidades dramáticas.
Nos corredores da Globo, a palavra de ordem é pragmatismo. O receio de repetir fracassos recentes pesa. Ninguém quer tropeçar com um clássico desse porte em pleno horário nobre. O objetivo é, ao mesmo tempo, conquistar o público fiel de antigamente ao dar aquela sensação de déjà-vu, e atrair uma nova geração que talvez nunca tenha ouvido falar de Odete Roitman e seu “quem matou?”.
Essas mexidas mostram que nem as novelas de maior sucesso escapam da pressão atual por audiência e relevância. Resta ver se o remake de 'Vale Tudo', após tanta reconstrução, vai reflorecer ou entrar para a galeria de adaptações esquecíveis.
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