Dois homens perderam a vida após consumirem bebidas alcoólicas contaminadas por metanol em São Paulo e em São Bernardo do Campo, e a polícia já rastreia mais dez suspeitos de intoxicação. O caso ganhou destaque no fim de setembro de 2025 porque o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo confirmou, desde junho, seis episódios de intoxicação, dos quais dois foram fatais.
Contexto e primeiros relatos
A primeira vítima era um homem de 54 anos que morava na região da Mooca/Aricanduva, Zona Leste da capital. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo informou que ele começou a apresentar sintomas de tontura, dor de cabeça e visão turva em 9 de setembro, foi encaminhado a um pronto‑socorro privado e faleceu em 15 de setembro. Já a segunda vítima, de 38 anos, morava em São Bernardo do Campo. Conforme a Secretaria de Segurança Pública de São Bernardo do Campo, ele morreu em 18 de setembro, após ser tratado no Hospital de Urgência da cidade, ainda sem confirmação laboratorial da presença de metanol.
Escala do problema e investigação policial
Com dez casos ainda sob investigação, o cenário é considerado sem precedentes pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas (Ciatox). Os números, divulgados nos primeiros 25 dias de setembro de 2025, superam tudo que se viu nos últimos cinco anos na região metropolitana. A polícia civil do São Paulo instaurou inquéritos nos 48º DP de Cidade Dutra, no 2º DP de São Bernardo do Campo e no 8º DP de Osasco, onde um caminhão com mais de 12 mil garrafas de bebidas falsificadas foi apreendido no bairro Santo Antônio.
Como o metanol chega às bebidas?
O metanol é um solvente industrial usado na produção de combustíveis, tintas e plásticos. Quando produtores de álcool ilegal adicionam metanol para “potencializar” o teor alcoólico ou reduzir custos, o resultado pode ser mortal. Em um comunicado, o Centro de Vigilância Sanitária alertou que o metanol é incolor, inflamável e altamente tóxico, podendo causar cegueira permanente ou morte mesmo em doses tão baixas quanto 10 ml.
Reação das autoridades e recomendações à população
“É fundamental que bares, restaurantes e consumidores verifiquem a procedência das bebidas antes de servir ou consumir”, disse Dr. Carlos M. Silva, presidente da Associação Paulista de Toxicologia. As recomendações incluem observar rótulos, lacres de segurança e selo fiscal – tudo sinal de que o produto foi registrado e testado. A Prefeitura de São Bernardo do Campo, por meio da Secretaria da Saúde, reforçou que o Hospital de Urgência está preparado para receber vítimas de intoxicação e que exames laboratoriais específicos já foram solicitados.
Impacto social e econômico
Além das duas mortes, dezenas de famílias enfrentam hospitalizações prolongadas, perda de renda e, em muitos casos, trauma psicológico. O comércio informal de álcool, que movimenta bilhões de reais anualmente, agora tem um alvo ainda maior dos órgãos de controle. Segundo dados do IBGE, cerca de 12 % da população adulta consome bebidas de origem desconhecida, principalmente em regiões periféricas.
Próximos passos e o que esperar
As investigações continuam, com peritos analisando amostras das garrafas apreendidas e rastreando a cadeia de distribuição. O Ministério da Justiça prometeu reforçar a legislação contra a falsificação de álcool, enquanto o Ciatox está preparando um guia de prevenção para divulgar nas unidades de saúde. Enquanto isso, a recomendação mais simples ainda vale: compre sempre de fontes confiáveis.
Frequently Asked Questions
Como o metanol pode estar presente em bebidas alcoólicas?
Produtores clandestinos, visando aumentar o teor alcoólico ou reduzir custos, adicionam metanol ao etanol impuro. O líquido não tem cheiro nem cor, o que dificulta a detecção por consumidores desatentos.
Quais são os primeiros sinais de intoxicação por metanol?
Os sintomas costumam surgir entre 12 e 24 horas após o consumo e incluem tontura, náuseas, visão borrada, dor de cabeça intensa e, em casos graves, cegueira ou falência de órgãos.
O que a lei brasileira prevê para quem produz ou vende álcool adulterado?
A Lei de Contravenções Penais (Decreto‑Lei 3.688/41) e a Lei de Crimes Contra a Saúde Pública (Lei 13.426/17) permitem penas de até 4 anos de reclusão e multa para quem fabrica, vende ou distribui álcool contendo substâncias tóxicas como metanol.
Como a população pode identificar bebidas seguras?
Observe o rótulo completo, lacre inviolável e selo fiscal. Desconfie de preços muito abaixo do mercado e de vendas em locais sem licença ou que não exigem nota fiscal.
Qual a expectativa de novas intervenções das autoridades?
Além de ampliar as fiscalizações em pontos de venda, o Ministério da Justiça está revendo o marco regulatório para tornar mais ágeis as punições e melhorar a rastreabilidade dos produtos alcoólicos.
6 Comentários
Isso aqui é um pesadelo real. Eu conheço um cara que bebia cachaça de um barril no fundo do quintal, dizia que era 'mais forte'. Agora ele tá com sequelas na visão e não consegue mais trabalhar. Ninguém deveria ter que correr esse risco só por querer um drinque barato.
Se a polícia achou 12 mil garrafas, imagina quantas já foram vendidas. É uma bomba-relógio escondida nos bares da periferia.
Quem lucra com isso? Quem compra? E quem paga o preço? As famílias.
Essa não é só questão de lei, é questão de sobrevivência.
Se você compra bebida em lugar que não tem nota fiscal, você tá pedindo pra morrer. Ponto final.
Não adianta blamear o governo se você tá ajudando o negócio. É sua culpa, seu deslumbramento com preço baixo. Se fosse só o povo bom que comprasse, isso não existia.
É importante lembrar que o metanol não tem cor, cheiro ou sabor distinto - isso torna a intoxicação ainda mais perigosa, porque a pessoa não sabe que está sendo envenenada.
Além disso, os sintomas demoram de 12 a 24 horas para aparecer, o que faz muitos acharem que é apenas uma ressaca comum e adiarem o atendimento médico.
As autoridades precisam de campanhas mais agressivas nas redes sociais, especialmente em grupos de WhatsApp de bairros populares, onde esse tipo de informação nunca chega.
Se o Ciatox está preparando um guia, que ele seja traduzido em linguagem simples, com emojis e vídeos curtos. Ninguém lê texto grande. E isso não é só saúde pública - é direito à vida.
As pessoas não são tolas, são desinformadas. E isso é culpa de quem não leva a comunicação séria.
Metanol é veneno, ponto. Mas quem vende isso é o mesmo que vende remédio vencido na feira. O povo tá com fome de barato e o mercado tá com fome de lucro. É um ciclo vicioso.
Se o governo quer acabar com isso, tem que botar mais fiscal no terreno e não só fechar caminhão. E tem que dar alternativa: bebida legal barata, tipo o álcool etílico industrial com preço controlado.
Se não, vai continuar matando. Só muda o nome da vítima.
Eu comprei uma cerveja de um posto de gasolina no interior de SP ano passado. O preço era metade do mercado. Não bebi. Devolvi. A dona ficou brava, disse que era "da mesma marca".
Se eu não tivesse lido sobre esse caso, talvez eu tivesse bebido. E agora? Será que eu estaria vivo?
Isso não é só um problema de quem vende. É um problema de quem compra sem questionar. A gente precisa de mais consciência, não só de mais lei.
Se você tem um bar, exija nota fiscal. Se você é cliente, exija também. Não é chato, é sobrevivência.
Eu acho que a gente pode fazer algo. Não é só esperar o governo agir. E se a gente começar a fazer campanhas nas comunidades? Grupos de mães, igrejas, escolas? Pode ser um vídeo de 30 segundos com um médico explicando como identificar uma bebida falsa.
Se a gente compartilhar isso, pode salvar alguém. Não precisa ser um herói. Só precisa ser corajoso o suficiente pra falar.
As vítimas não são números. São pais, filhos, amigos. E a gente pode fazer a diferença. A gente tem que fazer.