CFO da Ambipar pede demissão horas antes de pedido de proteção judicial
Por Daniel Pereira, set 26 2025 19 Comentários

Renúncia inesperada do CFO

Em meio a um clima de tensão que já era palpável na Ambipar, o executivo João Daniel Piran de Arruda entregou a carta de demissão. O fato aconteceu a apenas três dias do pedido de medida cautelar à Justiça do Rio de Janeiro, que impede que credores cobrem dívidas imediatamente. Arruda, que tinha pouco mais de um ano no comando das finanças da empresa, chegou a trazer para a Ambipar quinze anos de experiência no Bank of America. O salto de um banco global para uma empresa de serviços ambientais parecia promissor, mas a saída repentina levanta dúvidas sobre o que estava acontecendo nos bastidores.

Para quem acompanha o mercado, a coincidência entre a renúncia e o pedido de proteção não passa despercebida. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já estava investigando a companhia, e a saída de um CFO com histórico sólido costuma ser sinal de alerta. Alguns analistas sugerem que o executivo pode ter se antecipado a um cenário ainda mais complicado, enquanto outros apontam para possíveis desentendimentos internos sobre a estratégia de financiamento da empresa.

Cenário de crise e medidas judiciais

Na quinta‑feira, 25 de setembro de 2025, o 3º Vara Empresarial do Rio concedeu à Ambipar uma medida cautelar de 30 dias, que pode ser estendida por mais 30. Essa decisão impede que credores execulem dívidas imediatamente, dando à empresa um respiro para reorganizar a estrutura financeira. O juiz Leonardo de Castro Gomes nomeou ainda quatro administradores judiciais para acompanhar o processo, sinalizando que a situação é séria o suficiente para requerer supervisão externa.

O ponto crítico da crise está ligado aos green bonds emitidos pela empresa. As variações no preço e na negociação desses títulos geraram perdas inesperadas, ativando cláusulas de cross‑default nos contratos de dívida. Em termos práticos, isso significa que, se um débito entrar em mora, todas as demais obrigações podem ser aceleradas, gerando um efeito dominó que a Ambipar não está preparada para absorver. A estimativa dos especialistas aponta para um risco de cerca de R$ 11 bilhões, equivalentes a US$ 550 milhões, caso o próximo aporte de garantia ao Deutsche Bank, de aproximadamente R$ 60 milhões, seja cobrado.

Além do impacto financeiro, a notícia provocou uma reação violenta no mercado acionário. As ações da Ambipar despencaram mais de 50 % em questão de horas, apesar de a companhia ter sido a estrela de 2024, com valorização de 702 % ao longo do ano. O contraste entre o desempenho extraordinário e a queda brusca evidencia o quão volátil pode ser o mercado quando surgem dúvidas sobre a solidez de uma empresa.

Uma das alegações que circulam envolve um suposto fraude de um executivo anterior, que teria assinado um aditivo de contrato com o Deutsche Bank para uma dívida junto ao Santander. Caso a fraude seja confirmada, as consequências legais e reputacionais podem se somar ao já pesado fardo financeiro.

Para os investidores, a medida cautelar funciona como uma janela de negociação. Ela permite que a empresa busque alternativas – seja por meio de refinanciamento, venda de ativos ou até mesmo um pedido de recuperação judicial mais amplo. Enquanto isso, a CVM continua a analisar a condução dos negócios e a transparência das informações prestadas ao mercado.

O que se espera nos próximos dias são duas coisas: primeiro, a definição de um plano de ação pelos administradores judiciais, que deve apresentar como a Ambipar pretende cobrir o risco de maturidade antecipada das dívidas; segundo, a resposta dos credores, que podem aceitar a extensão da medida ou pressionar por decisões mais drásticas.

Em meio a esse turbilhão, os gestores da companhia ainda têm a missão de restaurar a confiança dos acionistas e do público. A comunicação clara, a demonstração de que os processos internos foram revistos e a busca por fontes de financiamento menos vulneráveis ao mercado de capitais serão fundamentais para mudar a percepção negativa que se instalou tão rapidamente.

19 Comentários

Nathan Leandro

Essa história toda é tipo um filme de terror, mas real. Um cara com 15 anos no Bank of America some no dia antes da empresa pedir proteção? Não é coincidência, é sinal vermelho. A gente já viu isso antes.

Cleber Soares

Cara, isso aqui é o clássico 'vendeu o sonho e esqueceu de entregar o produto'. A Ambipar virou meme de Wall Street, agora tá na lama. Nada de novo.

Fábio Vieira Neves

A situação é crítica, mas não caótica-ainda. A medida cautelar de 30 dias (prorrogável) é um mecanismo legal previsto na Lei 11.101/2005, e serve para evitar o efeito dominó das cláusulas de cross-default. O risco de R$ 11 bilhões está atrelado à exposição ao Deutsche Bank, cujo contrato exige garantia de R$ 60 milhões em 45 dias. A não ser que haja recapitalização ou alienação de ativos não estratégicos (ex: parques de compostagem em SP), o cenário de recuperação judicial é quase inevitável.

EVANDRO BORGES

Ninguém desiste de um cargo tão importante sem motivo. Se o CFO saiu, é porque ele viu algo que a gente não viu. Fica a dica: não compre ações só porque subiram 700% no ano passado. 🤞

Eduardo Bueno Souza

A Ambipar tá como um samba no pé: brilhou, pulou, todo mundo aplaudiu... e agora caiu no chão. Mas sabe o que é bonito? Quando a gente se levanta com a cabeça erguida. Se a empresa tem um plano real, não é o fim. É só o começo da verdadeira transformação. 🌱

Martha Michelly Galvão Menezes

O green bond é um instrumento de financiamento sustentável, mas quando usado sem transparência, vira armadilha. A CVM precisa investigar não só a fraude suposta, mas também os processos de governança que permitiram isso. A responsabilidade não é só do CFO, é da diretoria inteira.

Júlio Tiezerini

Alguém acha que isso é só uma crise financeira? Tá tudo conectado. O banco, o governo, o Deutsche Bank... eles planejaram isso desde 2023. O CFO foi um bode expiatório. A prova? Ele foi o único que saiu. Os outros continuam no cargo. Coincidência? Não. É um golpe.

mauro pennell

Fico triste. A Ambipar era uma das poucas empresas brasileiras que tentavam fazer coisa certa no meio ambiente. Agora, com essa nuvem de desconfiança, até quem tá tentando fazer o bem vai sofrer. A gente precisa de mais ética, não só de mais regulamentação.

Leandro Oliveira

Se você investiu nisso, você merece. A gente não tem direito de ficar surpreso quando alguém vende sonho e entrega dívida. Foi aviso na cara.

Nayane Correa

O pior não é a dívida. É a falta de transparência. Se a empresa não contou que tinha um aditivo fraudulento com o Santander, isso é mais grave que o dinheiro. É sobre confiança.

Bruna M

Ainda acho que dá pra reverter. Se eles conseguirem vender um dos parques de resíduos e fechar um acordo com o Deutsche Bank, pode ser que tudo se acerte. Ainda há esperança! 💪

Maria Rita Pereira Lemos de Resende

Cross-default. Green bonds. CVM. Administração judicial. Termos técnicos, mas o cerne é simples: falta de controle interno. A governance falhou. Ponto.

TOPcosméticos BRASIL

Sabe o que é pior que uma empresa em crise? Uma empresa que fingia ser sustentável só pra atrair investidores. Isso é traição. E eu não esqueço. 🤬

Tércio Sathler

Então o CFO saiu... e o CEO ainda tá no Twitter postando "nossos valores são intocáveis"? Meu Deus. A gente tá no Brasil, ou num episódio de Succession?

Clebson Cardoso

A queda de 50% em horas mostra o quão frágil é a percepção de valor no mercado. O que era R$ 100 virou R$ 50 não por perda real, mas por pânico. Ainda há valor lá. Só precisa de alguém com coragem pra ver além do medo.

Ulisses Carvalho

A gente tem que lembrar que o mercado é feito de gente. E gente erra. A Ambipar pode ter errado, mas se ela tiver humildade pra corrigir, ainda tem chance. Não é só dinheiro, é respeito.

Katia Nunes

Se o CFO tinha 15 anos no Bank of America, por que aceitou esse cargo? Ele sabia do risco. Então ou ele é louco... ou ele sabia que ia dar merda e queria sair antes. E aí, quem tá mentindo?

Ronaldo Mascher

A gestão da Ambipar precisa reconhecer que a crise não é apenas financeira, mas ética. A confiança, uma vez perdida, é a mais difícil de recuperar. Recomenda-se, com urgência, a nomeação de um conselho de ética independente, com representação externa, para restaurar a credibilidade perante os stakeholders.

Esthefano Carletti

Eles vão se esconder atrás da Justiça. Enquanto isso, os funcionários vão ser cortados. E o povo que comprou os títulos? Esquecido. Sempre é assim.

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