Renúncia inesperada do CFO
Em meio a um clima de tensão que já era palpável na Ambipar, o executivo João Daniel Piran de Arruda entregou a carta de demissão. O fato aconteceu a apenas três dias do pedido de medida cautelar à Justiça do Rio de Janeiro, que impede que credores cobrem dívidas imediatamente. Arruda, que tinha pouco mais de um ano no comando das finanças da empresa, chegou a trazer para a Ambipar quinze anos de experiência no Bank of America. O salto de um banco global para uma empresa de serviços ambientais parecia promissor, mas a saída repentina levanta dúvidas sobre o que estava acontecendo nos bastidores.
Para quem acompanha o mercado, a coincidência entre a renúncia e o pedido de proteção não passa despercebida. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já estava investigando a companhia, e a saída de um CFO com histórico sólido costuma ser sinal de alerta. Alguns analistas sugerem que o executivo pode ter se antecipado a um cenário ainda mais complicado, enquanto outros apontam para possíveis desentendimentos internos sobre a estratégia de financiamento da empresa.
Cenário de crise e medidas judiciais
Na quinta‑feira, 25 de setembro de 2025, o 3º Vara Empresarial do Rio concedeu à Ambipar uma medida cautelar de 30 dias, que pode ser estendida por mais 30. Essa decisão impede que credores execulem dívidas imediatamente, dando à empresa um respiro para reorganizar a estrutura financeira. O juiz Leonardo de Castro Gomes nomeou ainda quatro administradores judiciais para acompanhar o processo, sinalizando que a situação é séria o suficiente para requerer supervisão externa.
O ponto crítico da crise está ligado aos green bonds emitidos pela empresa. As variações no preço e na negociação desses títulos geraram perdas inesperadas, ativando cláusulas de cross‑default nos contratos de dívida. Em termos práticos, isso significa que, se um débito entrar em mora, todas as demais obrigações podem ser aceleradas, gerando um efeito dominó que a Ambipar não está preparada para absorver. A estimativa dos especialistas aponta para um risco de cerca de R$ 11 bilhões, equivalentes a US$ 550 milhões, caso o próximo aporte de garantia ao Deutsche Bank, de aproximadamente R$ 60 milhões, seja cobrado.
Além do impacto financeiro, a notícia provocou uma reação violenta no mercado acionário. As ações da Ambipar despencaram mais de 50 % em questão de horas, apesar de a companhia ter sido a estrela de 2024, com valorização de 702 % ao longo do ano. O contraste entre o desempenho extraordinário e a queda brusca evidencia o quão volátil pode ser o mercado quando surgem dúvidas sobre a solidez de uma empresa.
Uma das alegações que circulam envolve um suposto fraude de um executivo anterior, que teria assinado um aditivo de contrato com o Deutsche Bank para uma dívida junto ao Santander. Caso a fraude seja confirmada, as consequências legais e reputacionais podem se somar ao já pesado fardo financeiro.
Para os investidores, a medida cautelar funciona como uma janela de negociação. Ela permite que a empresa busque alternativas – seja por meio de refinanciamento, venda de ativos ou até mesmo um pedido de recuperação judicial mais amplo. Enquanto isso, a CVM continua a analisar a condução dos negócios e a transparência das informações prestadas ao mercado.
O que se espera nos próximos dias são duas coisas: primeiro, a definição de um plano de ação pelos administradores judiciais, que deve apresentar como a Ambipar pretende cobrir o risco de maturidade antecipada das dívidas; segundo, a resposta dos credores, que podem aceitar a extensão da medida ou pressionar por decisões mais drásticas.
Em meio a esse turbilhão, os gestores da companhia ainda têm a missão de restaurar a confiança dos acionistas e do público. A comunicação clara, a demonstração de que os processos internos foram revistos e a busca por fontes de financiamento menos vulneráveis ao mercado de capitais serão fundamentais para mudar a percepção negativa que se instalou tão rapidamente.
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