O Adeus a J. Borges: O Mestre Xilogravurista Pernambucano que Encantou o Mundo
Por Amaro Nogueira, jul 26 2024 0 Comentários

J. Borges: Um Ícone da Xilogravura e da Cultura Popular

A arte brasileira perdeu um dos seus maiores tesouros com a morte do renomado xilogravurista pernambucano J. Borges, aos 88 anos. Nascido Joaquim Francisco Borges em 20 de dezembro de 1935, em Bezerros, ele desenvolveu uma trajetória artística que seria reconhecida e admirada não somente no Brasil, mas ao redor do mundo. Sua morte, ocorrida na sexta-feira, 26 de julho, devido a causas naturais, encerra um capítulo notável da cultura popular nordestina.

O Início de uma Jornada Artística

A vida e obra de J. Borges são marcadas por uma devoção profunda às tradições populares. Desde jovem, mostrou interesse pelas artes, mas foi na xilogravura que encontrou sua verdadeira expressão. Inspirado pela simplicidade e riqueza das histórias populares, Borges começou a produzir gravuras que logo chamaram atenção por sua autenticidade e vigor narrativo. Seu encontro com o escritor Ariano Suassuna nos anos 1970 foi crucial para sua projeção, pois Suassuna reconheceu o talento incomparável de Borges e ajudou a promover seu trabalho.

A contribuição de Borges para a cultura pernambucana não pode ser subestimada. As suas xilogravuras ilustraram dezenas de folhetos de cordel, uma forma de literatura popular que combina poesia e ilustração, contada por histórias de cotidiano, mitos e lendas. Graças a ele, a xilogravura ganhou um status de arte respeitada e admirada internacionalmente.

Obras de Reconhecimento Internacional

Borges não se contentou em limitar sua arte ao nordeste brasileiro. Ao longo dos anos, suas obras conquistaram o mundo e foram exibidas em importantes instituições culturais. Entre suas criações mais notáveis está uma coleção de xilogravuras para a Biblioteca Nacional de Washington, que trouxe a rica narrativa visual do sertão pernambucano para o público norte-americano. Outro marco significativo em sua carreira foi a produção de ilustrações para a edição comemorativa dos 400 anos de 'Dom Quixote', de Miguel de Cervantes, um dos maiores clássicos da literatura mundial.

Essas obras evidenciam a versatilidade e a profundidade artística de Borges, que soube reinterpretar e valorizar temas tão diversos quanto a história nordestina e a literatura clássica, sempre com o traço inconfundível de sua xilogravura.

O Reconhecimento da Sua Terra

O legado de J. Borges será perpetuado não apenas pela extensão e importância de sua obra, mas também pelo reconhecimento oficial de sua contribuição cultural. O título de 'Patrimônio Vivo de Pernambuco', concedido pela Secretaria de Cultura do Estado, é uma prova do vínculo profundo entre o artista e sua terra. Em suas xilogravuras, não encontrávamos apenas expressões visuais, mas uma narrativa viva e pulsante da vida e da cultura nordestina.

Ao falecer, Borges deixa uma enorme lacuna, mas também um vasto repertório de obras que inspirarão futuras gerações. Seu impacto é tanto pessoal, transformando a vida de cada pessoa que teve a oportunidade de conhecer sua arte, quanto coletivo, fortalecendo a identidade cultural de Pernambuco.

Despedida e Homenagens

O corpo de J. Borges foi velado no Centro de Artesanato de Pernambuco, em Bezerros, um local digno para a última homenagem ao artista que tanto contribuiu para a valorização da cultura local. Posteriormente, ele será sepultado no cemitério Parque dos Eucaliptos, em uma cerimônia que deve reunir família, amigos, admiradores e autoridades.

As homenagens ao mestre da xilogravura têm sido numerosas. Em comunicados oficiais e nas redes sociais, pessoas de diversas partes do Brasil expressaram seu pesar e destacaram a importância de Borges para a cultura brasileira. O secretário de Cultura de Pernambuco, em uma nota oficial, ressaltou o legado indelével deixado pelo artista: 'J. Borges é um patrimônio cultural que transcende gerações. Sua arte nos conecta às nossas raízes e nos orgulha como pernambucanos.'

Legado e Inspiração

Apesar da dor da perda, a vida e a obra de J. Borges serão eternamente celebradas. Sua habilidade em transformar o cotidiano em arte e em contar histórias através de suas xilogravuras fazem dele uma figura imortal na cultura brasileira. Crianças, jovens e adultos que estudam arte e cultura popular têm em J. Borges um exemplo de dedicação e excelência.

Em um mundo em constante transformação, artistas como J. Borges mantêm viva a essência das tradições, enquanto inovam e criam novas maneiras de ver e sentir. Eles são os verdadeiros guardiões da cultura, aqueles que têm a missão de preservar o passado, enriquecendo o presente e iluminando o futuro.

Conclusão

Assim, despedimo-nos de J. Borges com gratidão por seu legado e a certeza de que sua arte continuará a inspirar e encantar por inúmeras gerações. Entre xilogravuras, cordéis e histórias, ele permanece vivo na memória e no coração dos que apreciam a cultura brasileira. O mestre pode descansar, mas seu legado permanecerá eterno.

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