O Adeus a J. Borges: O Mestre Xilogravurista Pernambucano que Encantou o Mundo
Por Daniel Pereira, jul 26 2024 17 Comentários

J. Borges: Um Ícone da Xilogravura e da Cultura Popular

A arte brasileira perdeu um dos seus maiores tesouros com a morte do renomado xilogravurista pernambucano J. Borges, aos 88 anos. Nascido Joaquim Francisco Borges em 20 de dezembro de 1935, em Bezerros, ele desenvolveu uma trajetória artística que seria reconhecida e admirada não somente no Brasil, mas ao redor do mundo. Sua morte, ocorrida na sexta-feira, 26 de julho, devido a causas naturais, encerra um capítulo notável da cultura popular nordestina.

O Início de uma Jornada Artística

A vida e obra de J. Borges são marcadas por uma devoção profunda às tradições populares. Desde jovem, mostrou interesse pelas artes, mas foi na xilogravura que encontrou sua verdadeira expressão. Inspirado pela simplicidade e riqueza das histórias populares, Borges começou a produzir gravuras que logo chamaram atenção por sua autenticidade e vigor narrativo. Seu encontro com o escritor Ariano Suassuna nos anos 1970 foi crucial para sua projeção, pois Suassuna reconheceu o talento incomparável de Borges e ajudou a promover seu trabalho.

A contribuição de Borges para a cultura pernambucana não pode ser subestimada. As suas xilogravuras ilustraram dezenas de folhetos de cordel, uma forma de literatura popular que combina poesia e ilustração, contada por histórias de cotidiano, mitos e lendas. Graças a ele, a xilogravura ganhou um status de arte respeitada e admirada internacionalmente.

Obras de Reconhecimento Internacional

Borges não se contentou em limitar sua arte ao nordeste brasileiro. Ao longo dos anos, suas obras conquistaram o mundo e foram exibidas em importantes instituições culturais. Entre suas criações mais notáveis está uma coleção de xilogravuras para a Biblioteca Nacional de Washington, que trouxe a rica narrativa visual do sertão pernambucano para o público norte-americano. Outro marco significativo em sua carreira foi a produção de ilustrações para a edição comemorativa dos 400 anos de 'Dom Quixote', de Miguel de Cervantes, um dos maiores clássicos da literatura mundial.

Essas obras evidenciam a versatilidade e a profundidade artística de Borges, que soube reinterpretar e valorizar temas tão diversos quanto a história nordestina e a literatura clássica, sempre com o traço inconfundível de sua xilogravura.

O Reconhecimento da Sua Terra

O legado de J. Borges será perpetuado não apenas pela extensão e importância de sua obra, mas também pelo reconhecimento oficial de sua contribuição cultural. O título de 'Patrimônio Vivo de Pernambuco', concedido pela Secretaria de Cultura do Estado, é uma prova do vínculo profundo entre o artista e sua terra. Em suas xilogravuras, não encontrávamos apenas expressões visuais, mas uma narrativa viva e pulsante da vida e da cultura nordestina.

Ao falecer, Borges deixa uma enorme lacuna, mas também um vasto repertório de obras que inspirarão futuras gerações. Seu impacto é tanto pessoal, transformando a vida de cada pessoa que teve a oportunidade de conhecer sua arte, quanto coletivo, fortalecendo a identidade cultural de Pernambuco.

Despedida e Homenagens

O corpo de J. Borges foi velado no Centro de Artesanato de Pernambuco, em Bezerros, um local digno para a última homenagem ao artista que tanto contribuiu para a valorização da cultura local. Posteriormente, ele será sepultado no cemitério Parque dos Eucaliptos, em uma cerimônia que deve reunir família, amigos, admiradores e autoridades.

As homenagens ao mestre da xilogravura têm sido numerosas. Em comunicados oficiais e nas redes sociais, pessoas de diversas partes do Brasil expressaram seu pesar e destacaram a importância de Borges para a cultura brasileira. O secretário de Cultura de Pernambuco, em uma nota oficial, ressaltou o legado indelével deixado pelo artista: 'J. Borges é um patrimônio cultural que transcende gerações. Sua arte nos conecta às nossas raízes e nos orgulha como pernambucanos.'

Legado e Inspiração

Apesar da dor da perda, a vida e a obra de J. Borges serão eternamente celebradas. Sua habilidade em transformar o cotidiano em arte e em contar histórias através de suas xilogravuras fazem dele uma figura imortal na cultura brasileira. Crianças, jovens e adultos que estudam arte e cultura popular têm em J. Borges um exemplo de dedicação e excelência.

Em um mundo em constante transformação, artistas como J. Borges mantêm viva a essência das tradições, enquanto inovam e criam novas maneiras de ver e sentir. Eles são os verdadeiros guardiões da cultura, aqueles que têm a missão de preservar o passado, enriquecendo o presente e iluminando o futuro.

Conclusão

Assim, despedimo-nos de J. Borges com gratidão por seu legado e a certeza de que sua arte continuará a inspirar e encantar por inúmeras gerações. Entre xilogravuras, cordéis e histórias, ele permanece vivo na memória e no coração dos que apreciam a cultura brasileira. O mestre pode descansar, mas seu legado permanecerá eterno.

17 Comentários

Tércio Sathler

Essa morte é um golpe no coração da cultura popular! Borges não era só um artista, era um arquivista vivo das histórias do sertão. Cada traço dele era uma voz que gritava: 'não nos esqueçam!'. E agora? Quem vai segurar o cinzel agora?

Fábio Vieira Neves

É inegável que J. Borges elevou a xilogravura a um patamar de arte contemporânea digna de museus internacionais. Sua técnica, rigorosamente ancorada na tradição, demonstrou uma profunda compreensão da estética popular - e isso, meu caro, é raro. A Biblioteca Nacional dos EUA reconheceu isso. A UNESCO deveria, também.

Ronaldo Mascher

Borges foi um gênio, mas eu queria que mais escolas ensinassem isso nas aulas de arte... não só falar do da vinci, mas do nosso Borges, que fez arte com madeira e alma. Ele merece mais que um obituário.

Clebson Cardoso

A simplicidade do traço dele não era falta de técnica - era domínio absoluto. Cada linha, cada sombra, cada expressão nos personagens das gravuras carregavam uma carga emocional que nenhum pixel consegue replicar. A cultura popular não precisa de sofisticação. Precisa de verdade. E Borges era verdade pura.

Katia Nunes

Ninguém fala que o governo nunca fez nada de verdade por ele... só quando morreu. Agora todos querem homenagear. Mas onde estavam quando ele precisava de um ateliê decente? Onde estava a cultura quando ele vivia de bolo de milho e papel de jornal?

Nathan Leandro

Ele fez arte com o que tinha. E isso é o mais bonito. Não precisava de tinta importada nem pincéis caros. Só precisava de um pedaço de madeira, um cinzel e uma história que valia a pena ser contada.

Esthefano Carletti

Só mais um artista morto que o mundo vai esquecer em dois meses. Enquanto isso, os influenciadores estão postando vídeos de café com pão de queijo. O que é mais importante? A xilogravura ou o #cafedamanha?

Júlio Tiezerini

Você já parou pra pensar que talvez ele não tenha morrido de causas naturais? Quem controla as grandes instituições culturais? Por que ele só foi reconhecido depois que fez ilustrações para o Dom Quixote? Será que alguém o usou pra legitimar um projeto ocidental?

EVANDRO BORGES

Família Borges, vocês não estão sozinhos. Ele era o nosso herói silencioso. Cada gravura dele é um pedaço da nossa alma. Vamos criar uma fundação, um museu itinerante, uma escola de xilogravura em cada cidade do interior. Ele não morreu. Ele virou semente. E nós somos os jardineiros agora. 🌱

Eduardo Bueno Souza

Borges nos lembra que a arte não precisa de galerias pra ser sagrada. Ela nasce no canto da casa, no pátio de madeira, na voz do contador de histórias. Ele foi um poeta com cinzel. E talvez, só talvez, o mundo tenha que aprender a ouvir mais os silêncios dos que não têm microfone.

mauro pennell

Lembro de ver as gravuras dele na feira de Bezerros quando era criança. Não entendia nada de arte, mas sentia que aquilo tinha alma. Hoje, vejo que ele era um guardião. E agora, quem segura a tocha? Não é só o governo. É cada um de nós que compartilhar uma imagem, que ensinar a um filho, que não deixar isso virar só um post no Instagram.

Leandro Oliveira

Se ele fosse um pintor de retratos da elite, todo mundo chamaria de gênio. Mas por ser um xilogravurista do sertão? Só agora que morreu. O que isso diz sobre a nossa sociedade?

Martha Michelly Galvão Menezes

A importância de Borges vai muito além da técnica. Ele transformou o cordel - uma expressão oral - em algo visual, acessível, eterno. Sua obra é um documento antropológico. E isso, infelizmente, não é ensinado nas universidades. Precisamos de cursos específicos sobre a iconografia popular nordestina. Ele merece isso.

Cleber Soares

Acho que todo mundo tá fazendo drama por causa da morte dele, mas no fundo, quem se importa mesmo? A galera tá postando foto com legenda triste, mas não vai nem comprar uma gravura dele. É só emoção de rede social.

Nayane Correa

Fiquei emocionada lendo isso. Minha avó tinha um folheto com gravura dele na parede da cozinha. Ela contava as histórias pra mim antes de dormir. Hoje, eu tenho um filho. Vou ensinar a ele quem foi J. Borges. Não como um nome em um obituário. Mas como um herói da nossa casa.

Bruna M

A arte dele não é só linda - é corajosa. Em um mundo que valoriza o novo, ele escolheu manter o antigo. E isso, hoje, é uma revolução. Que mais artistas tenham a coragem de serem simples, verdadeiros e persistentes. Ele foi um exemplo. E isso é mais valioso que qualquer prêmio.

EVANDRO BORGES

Martha, sua mensagem me tocou profundamente. Vamos juntos criar um projeto chamado 'Cordel Vivo' - onde crianças desenham suas histórias e as transformam em xilogravuras, com base no estilo de Borges. Já tenho um espaço em Recife. Quer ajudar?

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