Robinho, ex-atacante da seleção brasileira e condenado por assédio sexual na Itália, vive um conflito de narrativas dentro da Penitenciária II de Tremembé, em São Paulo. Enquanto o jornalista Ulisses Campbell, autor de Tremembé: O presídio dos famosos, afirma que o ex-jogador se recusa a aceitar a realidade da prisão — falando sozinho no pátio, recebendo proteção de outros presos e evitando tarefas de limpeza —, Robinho desmente tudo em um vídeo divulgado em 28 de outubro de 2025 pela Conselho da Comunidade de Taubaté. "Meu sono, minhas refeições, tudo é igual ao dos outros reeducandos", disse ele, olhando direto para a câmera. A contradição entre as versões não é só um detalhe de rotina: revela como a prisão de uma celebridade se tornou um espelho das tensões entre justiça, reputação e poder dentro do sistema carcerário brasileiro.
"Ele não aceita que cometeu um crime"
Segundo Campbell, que passou meses investigando a vida dentro da penitenciária, Robinho mantém uma postura de negação absoluta. "Ele diz que é inocente até hoje. Acha que foi condenado injustamente, que não teria cometido o crime", conta o jornalista em entrevistas aos podcasts "Flow" e "Ticaraticacast". Essa recusa em assumir responsabilidade, segundo ele, é o cerne do problema de adaptação do ex-jogador. Ao invés de se integrar, Robinho teria criado um sistema paralelo: oferece orientação jurídica a outros presos — indicando advogados que atuam junto à Defensoria Pública — em troca de proteção. Isso, diz Campbell, o livra de trabalhos como limpeza e manutenção, atividades obrigatórias para todos os demais. "É uma espécie de moeda de troca: conhecimento por segurança", explica o autor. O resultado? Um homem que, embora preso, ainda opera como se estivesse no topo de uma hierarquia que ele próprio criou.
"Aqui quem manda são os guardas"
Naquele vídeo gravado em 28 de outubro, Robinho não apenas nega os privilégios — ele desmonta a ideia de que seja um líder. "Aqui quem manda são os guardas, e nós, reeducandos, só obedecemos", afirma, com tom firme, quase cansado. Ele reforça que não come diferente, não dorme em horário especial e que suas visitas são iguais às de qualquer outro preso: aos sábados e domingos, com a esposa e os filhos, os dois menores brincando no pátio. "Nunca precisei de medicação, graças a Deus. Tenho a cabeça boa", diz ele, em um momento que soa mais como um pedido de compreensão do que uma defesa. O vídeo, produzido pela Conselho da Comunidade de Taubaté, entidade que apoia o Poder Judiciário em Taubaté, foi feito como parte de uma campanha de transparência. O próprio Robinho enfatiza: "Aqui o objetivo é reeducar, ressocializar quem errou". E acrescenta, quase como uma revelação: "É uma unidade prisional onde todos querem vir, porque tem trabalho, sem facções criminosas, sem opressão".
Um presídio que virou atração
Desde que Robinho foi transferido para a Penitenciária II de Tremembé, em março de 2024, o fluxo de visitantes mudou. Não são só familiares ou advogados. São curiosos. Moradores da região, estudantes de direito, até jornalistas locais. A penitenciária, localizada a 160 km da capital paulista, no Vale do Paraíba, passou a ser um ponto de referência para quem quer entender como funciona a prisão de celebridades no Brasil. E Robinho, mesmo sem querer, se tornou um símbolo. Ele treina times de futebol com guardas e presos aos domingos — uma atividade que, segundo ele, é aberta a todos. Mas é também um espaço onde ele ainda pode ser o jogador que foi: o centro das atenções, o líder natural. Será que isso é reeducação? Ou apenas uma ilusão?
A condenação que desafiou a Constituição
Robinson de Souza, nascido em 25 de janeiro de 1984, em São Vicente, foi condenado pela justiça italiana a nove anos de prisão por um crime sexual cometido em 2013, durante uma festa em Milão. O caso, que envolveu uma jovem de 18 anos, gerou repercussão global. Mas o que tornou o caso único no Brasil foi a homologação da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em março de 2024, por 9 votos a 2. Isso porque a Constituição brasileira proíbe a extradição de cidadãos natos. Mas não proíbe a execução de sentenças estrangeiras — um detalhe jurídico sutil, mas crucial. O STJ entendeu que, como Robinho já havia sido julgado e condenado no exterior, o Brasil poderia aplicar a pena sem violar a soberania. Foi um marco. E agora, a execução dessa pena está sendo testada na prática — e não apenas na lei.
O que vem a seguir?
Robinho cumpre quase dois anos de sua pena. Restam sete. E o que acontece daqui para frente? Se ele continuar negando a culpa, será que a prisão conseguirá reeducá-lo? Ou ele será apenas mais um preso que vive no limbo da negação? A Conselho da Comunidade de Taubaté promete continuar monitorando sua evolução. Já Campbell, por outro lado, diz que a verdadeira prova será ver se Robinho, algum dia, reconhecerá o que fez — não para obter benefícios, mas por maturidade. "A prisão não é só um lugar de punição. É um lugar onde a alma precisa se confrontar. E ele ainda não olhou no espelho".
Frequently Asked Questions
Por que a prisão de Robinho é um caso jurídico relevante no Brasil?
A homologação da sentença italiana pelo STJ em 2024 foi um marco, pois o Brasil não extradita cidadãos, mas pode executar penas estrangeiras. Isso estabelece um precedente para casos de crimes sexuais cometidos no exterior por brasileiros, abrindo caminho para que outras sentenças similares sejam aplicadas aqui, mesmo sem extradição.
Robinho realmente tem privilégios na prisão?
Há versões conflitantes. O jornalista Ulisses Campbell afirma que ele evita tarefas e recebe proteção em troca de orientação jurídica. Já Robinho, em vídeo oficial, nega qualquer tratamento diferenciado. A falta de acesso independente à unidade dificulta confirmar qual versão é verdadeira — mas os dois relatos revelam como o poder simbólico de uma celebridade pode distorcer a realidade carcerária.
O que é a Penitenciária II de Tremembé e por que ela é diferente?
Localizada em Tremembé, no Vale do Paraíba, a unidade é conhecida por ter menos violência e facções criminosas do que outras prisões paulistas. Tem programas de trabalho e educação, e é considerada uma das mais ordenadas do estado. Por isso, é frequentemente escolhida para presos de alta visibilidade — como Robinho — que precisam de segurança e controle, mas não de isolamento extremo.
Como a sociedade reage à prisão de uma celebridade como Robinho?
A reação é dividida. Para muitos, é uma justa consequência por um crime grave. Para outros, é um sinal de que o sistema falha ao permitir que famosos mantenham influência mesmo atrás das grades. O vídeo dele, com a fala de que "todos são iguais", foi visto mais de 2 milhões de vezes — mostrando que o público ainda não decidiu se ele é vítima, vilão ou apenas um homem em crise.
Robinho ainda pode ser libertado antes do fim da pena?
Sim. No sistema brasileiro, presos podem ter direito à progressão de regime após cumprir 1/6 da pena (18 meses, neste caso) se demonstrarem bom comportamento. Mas, para isso, é necessário reconhecer a culpa e participar de programas de ressocialização — algo que, segundo Campbell, Robinho ainda recusa. Sem isso, a progressão é improvável.
O que o caso revela sobre o sistema prisional brasileiro?
Revela que, mesmo em unidades consideradas "modelos", o poder simbólico de figuras públicas pode criar hierarquias invisíveis. A prisão não é um espaço neutro — é um microcosmo da sociedade, onde fama, dinheiro e influência ainda encontram brechas. A verdadeira prova será se o sistema consegue manter a igualdade, mesmo quando o preso é um ex-ídolo.
1 Comentários
Robinho tá na prisão mas ainda acha que é o cara que faz gol no Maracanã? Sério? Ele acha que falar pro vídeo que é igual aos outros resolve? Aí o pessoal que limpa o banheiro todo dia tá vendo isso e ri na cara dele. Ele não tá sendo reeducado, tá fazendo show pra câmera.